domingo, 4 de setembro de 2011

[Rubem Alves]





A alma é uma borboleta... há um instante em que uma voz nos diz que chegou o momento de uma grande metamorfose...

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Yuri Andersen, jONes e eterno BOZO , FELIZ ANIVERSÁRIO, amigo querido...

Onde você estiver, não se esqueça de mim
Com quem você estiver não se esqueça de mim
Eu quero apenas estar no seu pensamento
Por um momento pensar que você pensa em mim
Onde você estiver, não se esqueça de mim
Mesmo que exista outro amor que te faça feliz
Se resta, em sua lembrança, um pouco do muito que eu te quis
Onde você estiver, não se esqueça de mim
Eu quero apenas estar no seu pensamento
Por um momento pensar que você pensa em mim
Onde você estiver, não se esqueça de mim
Quando você se lembrar não se esqueça que eu
Que eu não consigo apagar você da minha vida
Onde você estiver não se esqueça de mim

sábado, 14 de maio de 2011

_ Minha caixinha de guardar humores, Maria da Graça! _

Paulo Mendes Campos

Para Maria da Graça



Quando ela chegou à idade avançada de 15 anos eu lhe dei de presente o livro Alice no País das Maravilhas.

Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti. Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucuras. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade. A realidade, Maria, é louca.

Nem o papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: "Fala a verdade, Dinah, já comeste um morcego"?

Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. "Quem sou eu no mundo?" Essa indagação perplexa é o lugar-comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira.

A sozinhez (esquece esta palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: "Estou tão cansada de estar aqui sozinha!" O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. "A porta do poço!". Só as criaturas humanas, nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados, conseguem abrir uma porta bem fechada e vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.

Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial, e tens a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências.

Quando Alice comeu o bolo, e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece geralmente às pessoas que comem bolo.

Maria, há uma sabedoria social ou de bolos; nem toda sabedoria tem de ser séria ou profunda.

A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia: "Oh, I beg your pardon!" Pois viver é falar de acordo em casa de enforcado. Por isso te digo para a tua sabedoria de bolso: se gostas de gato, experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: "Gostaria de gatos se fosse eu?"

Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados, todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos, que, quando os corredores chegam exausto a um ponto, costumam perguntar: "A corrida terminou! Mas quem ganhou?" É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não conseguirá saber quem venceu. Para o bolso: se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupes com a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre onde quiseres, ganhaste.

Disse o ratinho: "Minha história é longa e triste!" Ouvirás isso milhares de vezes. Como ouvirás a terrível variante: "Minha vida daria um romance." Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e como todas as vidas dariam romances, pois um romance é só o jeito de contar uma vida, foge, polida mas energicamente, dos homens e das mulheres que suspiram e dizem: "Minha vida daria um romance!" Sobretudo dos homens. Uns chatos irremediáveis, Maria.

Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice: "Devo estar diminuindo de novo". Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crecer novamente.

E escuta está parábola perfeita: Alice tinha diminuíndo tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida toda uma quantidade imensa de camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem-disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nosso domínio disfarçado de camundongo. Mas como tomar o pequeno por grande e o grande por queno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom humor. Toda pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa médica para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixa preciosa, muito escondida, para as grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de sofrimento ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado, Maria, com as grandes ocasiões.

Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um um lago, pensava: "Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas".

Conclusão: a própria dor tem a sua medida. É feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria da Graça.

sábado, 9 de abril de 2011

Postando com atraso de 7 anos e...antecipando outros 46. VOU_ME aos 86, expliCITANDO!

Escrevinhei no dia do meu aniversário de 40 anos, achei tragédia demais, era muito jovem,(SICão), pouco juízo e muito palavrório sem noção, guardei pra quando minha maturidade chegasse.

Como ousas fazer 86 anos? Quem pensas ser? Como ousas, como ousas? Dize-me! Pois que seja condenada, não mereces absolvição. Te calas? O tribunal te exige palavras e nos dá somente o teu silêncio? Digas, é uma ordem, como em meio a tanta dor, tanta morte, chegastes até aqui. A peste e a fome não te alcançaram, fugiram amendrontadas de ti! Muitos caíram a tua direita e só tu maldita wicca, isso, só podes ser uma bruxa, sobrevivestes, pois que seja, como quiseres, teu orgulho de nada te serves,que seja, que sejas jogada num calabouço até tua hora derradeira.

O fogo que me consumia fez uma combinação com ar e virou vento , pairei sobre a terra em partículas minúsculas a que dão o nome pó. Lembrei-me de águias e falcões e tentei voar como ... Tentativa vã, a verdade era que eu não voava, eu ia, altitude e velocidade permanentes... Impulsionada por uma ordem que mesmo que eu quisesse e pudesse não ousaria desobedecer... medo, solidão, uma “asa” pó no chão, uma “asa” pó no céu, eu era algo no universo sem estar sendo. O que é o pó que eu havia me transformado?

Hoje posso dizer que entendo como um membro amputado continua a viver por um tempo no corpo que lhe serviu de moradia. O cansaço, a dor, a desesperança tomou conta de mim, toda eu era uma dor que não explico, palavras de pos vida é pó, e pó sente diferente.

Adormeci como se estivesse embriagada, confusos sonhos, uma terra diferente, um povo diferente do meu...


Acordei, tenho fome. Meu estômago cobra , como pode? Pó!

Começou a chover, esqueci a fome do corpo que não mais existia, me sentia suja precisava me banhar, desci, a força que não se explica mais uma vez...

Num quase país chamado Brasil.

Cheiro bom nunca antes sentido, pareceu-me um dia de chuva após longa seca. Meu sonho, Deus! Voltei á terra que chove acima dela, é verão e verde, a terra aquece, tenho braços e pernas, quero sair daqui. Cavo a luz, cavo o ar.

Estou numa espreguiçadeira numa tarde de um domingo cheio de luz olhando o mar, Copacabana , me disseram tempos depois... uma preguiça, um torpor... não sou mais pó, sou o que nunca supus, deixei-me em paz... tentando germinar, estou pronta...

terça-feira, 5 de abril de 2011

domingo, 3 de abril de 2011

Oração _ Antônio Maria_

"Rosinha Desossée, me tire desse quarto de hotel e de todas as coisas que entram pela janela; me leve para longe das palmeiras, mais longe e perto das coisas mais macias; me faça esquecer (depressa) os homens ruins — isto é: os que gostam de cebola crua; me ensine, Rosinha Desossée, tudo o que eu não aprendi: a cortar com a mão direita, a usar anel, a tocar piano, a desenhar uma árvore e valsar; e me lembre do que eu esqueci — raiz quadrada, (as mais ordinárias), frações, latim, geofísica e "Navio Negreiro", de Castro Alves; depois, me dê, pelo bem dos seus filhinhos, aquilo que eu não tenho há quase um ano, carinho — de um jeito que eu não sei dizer como é, mas que há, por aí ou, pelo menos, já houve; destelhe a casa, deixe a noite entrar e, juntos, vamos nos resfriar; espirre de lá, que eu espirro de cá... agora, cada um com a sua bombinha, inalação, inalação; lado a lado, sentemos, os dois de perfil para o ventilador; minhas mãos e as suas não são de ninguém, entendido?; se interesse por mim e pergunte o que eu sei, que eu quero exclamar, no mais puro francês: "oh!"..."comment allez vous"? (...) de um jeito ou de outro, me tire daqui, pra Pérsia, Sibéria, pro Clube da Chave, pra Marte, Inglaterra, sem couvert, sem couvert; está vendo o retrato dos meus 20 anos? de lá para cá, cansaço, pé chato, gordura, calvície fizeram de mim essa coisa ansiosa, insegura e com sono, que pede a você, no auge do manso: você, Desossée, não saia esta noite e fique, ao meu lado, esperando que o sono me tome e me mate, me salve e me leve, por amor ao teu andar, assim seja..."

ROUBEI SUA SENHA (MUAWHAHAHAHAHA)

AQUI ESTÁ MINHA PERFEITA CONTRIBUIÇÃO PARA O SEU BLOG...



Ass: Gabriel Navarro \o/

sábado, 2 de abril de 2011

Le Sacre Du Printemps

Eu viveria de bom grado até os cem anos com todos os meus sentidos intactos. Não temo a morte, nunca temi. Tenho outros medos. Temo os meus olhos que já não são os mesmos de outrora, as cores se embassam na medida certa do envelhecer da minha retina já tão cansada. 


Temo não mais ouvir a música das esferas, tão simples era antes... olhava o céu em noite de estrelas e imaginava os planetas se movendo na  perfeita sincronia do universo. A perfeição que eu via era tanta que dela surgia sons que eu com o coração enamorado transformava em sinfonia. 


Temo não sentir o sabor real das frutas... a  maça sem crek, a jabuticaba sem ploqt- nhoc, e  a  polpa da manga na língua? O caldo prazeroso a me escorrer pelo queixo manchando minha blusa branca com uma estampa do arco-íris no meio. 

Temo tocar uma gravura de Matisse, um velho livro que guardo, presente de meus quinze anos. Meus dedos sentiriam a textura como se eu tivesse tocando o original? Dedos que  sabem tocar como os meus, choram. Isso, choram,  a emoção que vem da alma é a lágrima vertida  em suor que não macula a obra tocada



Começou a chover, parei uns minutos e fui até a  janela. O cheiro da chuva mesmo caindo no asfalto pra mim é  terra molhada - outra coisa do toque me veio agora- um campo imenso, com muitas arvores, bois, vacas, carneiros... uma chuva amiga e eu sem sapatos. É preciso dizer algo mais?


Senhor meu Deus, tira o meu  pão, mas me deixa  o  cheiro do trigo.
Senhor meus Deus, arranca  os meus  olhos, mas não me  deixa  esquecer as cores do nascer e do por do sol
Senhor meu Deus, amputa meus  dedos, mas me deixa  a palma das mãos pra eu sentir nem que por um segundo um rosto querido entre elas.
Senhor meu Deus, tira de mim o  gosto do inútil da vida, mas me deixa saborear as frutas do seu pomar.
Senhor meu Deus, tranca meus ouvidos, mas não  me tira  a sua voz, porque só assim eu sentiria o mundo da minha antiga primavera.



Que assim seja, amém! 














 
 

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Texto de Carlos Drummond de Andrade

"Som sobre tom"

Abro a janela, e em minha paróquia não visitada por sabiás, um sabiá está cantando. O ouvido não se enganou, e é fácil de explicar. Nesta manhã, um sabiá múltiplo e comemorativo gorjeia em cada árvore de cada bairro do Rio, da Tijuca ao Leblon, pela chegada dos cinquenta anos do sabiá-mor, vulgo Tom Jobim.

O pássaro desenvolve um canto geral, em nome das aves amadas por Tom, inclusive o matita-perê, que não nasceu lá muito melodioso, e o jereba, ou urubu de cabeça vermelha, do qual obviamente não se exigem primores vocais. E sua ária festiva é justa homenagem da natureza ao compositor que soube captar para nós, entre canções de amor sofrido ou exultante, a palpitação, o lirismo surdo, o secreto recado das águas de março, das madeiras e lejes que compõem o mais antigo cenário de vida. Cenário que vamos destruindo metodicamente, em vez de preservá-lo e restaurá-lo como opção para o triste viver urbano a que nos condenamos por inclinação suicida.

Porque Tom é isso aí: o vibrátil rapaz da cidade, que leva para Ipanema e leblon uma alma ressoante de rumores da floresta, perto da qual ele nasceu. Se ama o papo no bar, com amigos ("a cerveja locupleta os vazios da alma", diz ele), será por invencível delicadeza, que ainda agora o fez declarar a Cristina Lira: "Eu só tenho feito gostar das pessoas". E reconhecendo que "as conversas de bar procuram o longo caminho do equívoco", um dia propôs a um amigo distante "estabelecer sesmarias aéreas" de sociedade com ele. Tom sabe voar sobre miudezas e convencionalismos que atrapalham a verdadeira comunicação, sob aparência de estimulá-la.

Se vai aos Estados Unidos, para gravar sua música em nível técnico mais apurado, até nisto segue política de pássaro, que emigra na hora sazonal e volta religiosamente ao habitat na hora certa. E ao voltar, continua tão brasileiro quanto era ao sair, que isso é raiz e sobrenome dele: Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, nos papéis civis. De resto, incriminá-lo de americanização, a mim parece inverter o sentido das coisas. Tom leva para a América do Norte uma límpida, sensível imagem brasileira, que lá nos faz menos desconhecidos e até amados por quem distingue, através da música, o temperamento nacional de que ela resulta. (Exportação cultural, que corresponde ao nosso interesse econômico.)

Esse generoso, espontaneo ser urbano-silvestre que é o maestro Jobim representa muita coisa mais do que uma sensibilidade pequeno-burguesa que modula crônicas de amor para consumo da classe média, a que logo adere uma suposta classe alta. É antes um criador musical que concentra o espírito do Brasil antigo, situando-o na atualidade sob condições novas. Estabelece uma continuidade emocional em formas tão cristalinas que sentimos, graças ao seu talento, a novidade dos estados permanentes de alegria, tristeza e cisma, vividos pela nossa gente, à margem de estilos e modas. Um Nazaré e um Tom dispensam colocação didática na história da música brasileira. E em Tom esse sentir brasileiro é também um sentir dos ventos, das ramagens, dos seixos, das vozes de passarinhos, que não são cariocas nem fluminenses, é a "geologia moral" do Brasil, que procuramos esquecer mas subsiste como explicação maior da gente.

Tom Jobim, deputado eleito pelos sabiás, canários e curiós para falar, não aos povos da Zona Sul, mas a toda criatura capaz de ouvir e de entender pássaros, trazendo-nos uma interpretação melódica da vida. Isso que ele faz tão bem, cativando a todos. Ou a quase todos, pois seria vão esperar que os amantes do barulho erguido à categoria de música estimassem o antibarulho, o refinamento do som organizado em fonte de prazer estético e explicação do homem por si mesmo. O som de Tom, o som que uma fada (iara, sereia, camena?) lhe deu há 50 anos, presente das matas da Tijuca ao futuro morador do Leblon, ao mais despreocupado dos mestres, e por isso também o mestre que é mais agradável reverenciar.

Salve, Tom, em claro e meigo Tom!