sábado, 9 de abril de 2011

Postando com atraso de 7 anos e...antecipando outros 46. VOU_ME aos 86, expliCITANDO!

Escrevinhei no dia do meu aniversário de 40 anos, achei tragédia demais, era muito jovem,(SICão), pouco juízo e muito palavrório sem noção, guardei pra quando minha maturidade chegasse.

Como ousas fazer 86 anos? Quem pensas ser? Como ousas, como ousas? Dize-me! Pois que seja condenada, não mereces absolvição. Te calas? O tribunal te exige palavras e nos dá somente o teu silêncio? Digas, é uma ordem, como em meio a tanta dor, tanta morte, chegastes até aqui. A peste e a fome não te alcançaram, fugiram amendrontadas de ti! Muitos caíram a tua direita e só tu maldita wicca, isso, só podes ser uma bruxa, sobrevivestes, pois que seja, como quiseres, teu orgulho de nada te serves,que seja, que sejas jogada num calabouço até tua hora derradeira.

O fogo que me consumia fez uma combinação com ar e virou vento , pairei sobre a terra em partículas minúsculas a que dão o nome pó. Lembrei-me de águias e falcões e tentei voar como ... Tentativa vã, a verdade era que eu não voava, eu ia, altitude e velocidade permanentes... Impulsionada por uma ordem que mesmo que eu quisesse e pudesse não ousaria desobedecer... medo, solidão, uma “asa” pó no chão, uma “asa” pó no céu, eu era algo no universo sem estar sendo. O que é o pó que eu havia me transformado?

Hoje posso dizer que entendo como um membro amputado continua a viver por um tempo no corpo que lhe serviu de moradia. O cansaço, a dor, a desesperança tomou conta de mim, toda eu era uma dor que não explico, palavras de pos vida é pó, e pó sente diferente.

Adormeci como se estivesse embriagada, confusos sonhos, uma terra diferente, um povo diferente do meu...


Acordei, tenho fome. Meu estômago cobra , como pode? Pó!

Começou a chover, esqueci a fome do corpo que não mais existia, me sentia suja precisava me banhar, desci, a força que não se explica mais uma vez...

Num quase país chamado Brasil.

Cheiro bom nunca antes sentido, pareceu-me um dia de chuva após longa seca. Meu sonho, Deus! Voltei á terra que chove acima dela, é verão e verde, a terra aquece, tenho braços e pernas, quero sair daqui. Cavo a luz, cavo o ar.

Estou numa espreguiçadeira numa tarde de um domingo cheio de luz olhando o mar, Copacabana , me disseram tempos depois... uma preguiça, um torpor... não sou mais pó, sou o que nunca supus, deixei-me em paz... tentando germinar, estou pronta...

terça-feira, 5 de abril de 2011

domingo, 3 de abril de 2011

Oração _ Antônio Maria_

"Rosinha Desossée, me tire desse quarto de hotel e de todas as coisas que entram pela janela; me leve para longe das palmeiras, mais longe e perto das coisas mais macias; me faça esquecer (depressa) os homens ruins — isto é: os que gostam de cebola crua; me ensine, Rosinha Desossée, tudo o que eu não aprendi: a cortar com a mão direita, a usar anel, a tocar piano, a desenhar uma árvore e valsar; e me lembre do que eu esqueci — raiz quadrada, (as mais ordinárias), frações, latim, geofísica e "Navio Negreiro", de Castro Alves; depois, me dê, pelo bem dos seus filhinhos, aquilo que eu não tenho há quase um ano, carinho — de um jeito que eu não sei dizer como é, mas que há, por aí ou, pelo menos, já houve; destelhe a casa, deixe a noite entrar e, juntos, vamos nos resfriar; espirre de lá, que eu espirro de cá... agora, cada um com a sua bombinha, inalação, inalação; lado a lado, sentemos, os dois de perfil para o ventilador; minhas mãos e as suas não são de ninguém, entendido?; se interesse por mim e pergunte o que eu sei, que eu quero exclamar, no mais puro francês: "oh!"..."comment allez vous"? (...) de um jeito ou de outro, me tire daqui, pra Pérsia, Sibéria, pro Clube da Chave, pra Marte, Inglaterra, sem couvert, sem couvert; está vendo o retrato dos meus 20 anos? de lá para cá, cansaço, pé chato, gordura, calvície fizeram de mim essa coisa ansiosa, insegura e com sono, que pede a você, no auge do manso: você, Desossée, não saia esta noite e fique, ao meu lado, esperando que o sono me tome e me mate, me salve e me leve, por amor ao teu andar, assim seja..."

ROUBEI SUA SENHA (MUAWHAHAHAHAHA)

AQUI ESTÁ MINHA PERFEITA CONTRIBUIÇÃO PARA O SEU BLOG...



Ass: Gabriel Navarro \o/

sábado, 2 de abril de 2011

Le Sacre Du Printemps

Eu viveria de bom grado até os cem anos com todos os meus sentidos intactos. Não temo a morte, nunca temi. Tenho outros medos. Temo os meus olhos que já não são os mesmos de outrora, as cores se embassam na medida certa do envelhecer da minha retina já tão cansada. 


Temo não mais ouvir a música das esferas, tão simples era antes... olhava o céu em noite de estrelas e imaginava os planetas se movendo na  perfeita sincronia do universo. A perfeição que eu via era tanta que dela surgia sons que eu com o coração enamorado transformava em sinfonia. 


Temo não sentir o sabor real das frutas... a  maça sem crek, a jabuticaba sem ploqt- nhoc, e  a  polpa da manga na língua? O caldo prazeroso a me escorrer pelo queixo manchando minha blusa branca com uma estampa do arco-íris no meio. 

Temo tocar uma gravura de Matisse, um velho livro que guardo, presente de meus quinze anos. Meus dedos sentiriam a textura como se eu tivesse tocando o original? Dedos que  sabem tocar como os meus, choram. Isso, choram,  a emoção que vem da alma é a lágrima vertida  em suor que não macula a obra tocada



Começou a chover, parei uns minutos e fui até a  janela. O cheiro da chuva mesmo caindo no asfalto pra mim é  terra molhada - outra coisa do toque me veio agora- um campo imenso, com muitas arvores, bois, vacas, carneiros... uma chuva amiga e eu sem sapatos. É preciso dizer algo mais?


Senhor meu Deus, tira o meu  pão, mas me deixa  o  cheiro do trigo.
Senhor meus Deus, arranca  os meus  olhos, mas não me  deixa  esquecer as cores do nascer e do por do sol
Senhor meu Deus, amputa meus  dedos, mas me deixa  a palma das mãos pra eu sentir nem que por um segundo um rosto querido entre elas.
Senhor meu Deus, tira de mim o  gosto do inútil da vida, mas me deixa saborear as frutas do seu pomar.
Senhor meu Deus, tranca meus ouvidos, mas não  me tira  a sua voz, porque só assim eu sentiria o mundo da minha antiga primavera.



Que assim seja, amém!