_ CApinAn _

PoEsia PuRa

Se esta é a busca da noite enquanto noite,

A busca intensa que nada perturba,

Nego a sensibilidade, pois ela acrescenta.

Nego a compreensão, pois ela já tem noções

E pode perturbar a flor pelo conhecer do homem.

Hoje não relaciono, não comprometo.

Quero a coisa em seu íntimo mais grave

Quero a coisa, essencialmente a coisa,

A coisa metafísica, para provar a impossibilidade.

_de propósito Rústica_

Rústica _ Paula Toller_

Sonhei que era uma rosa
Feminil e delicada
Acordei viril,
Musculosa e inadequada

Sonhei que era uma voz
A propor belas falas
Não a rudez que tolhe
Em prosa que não calha

No andar
No pensar
No amar
Um eterno mal estar
Pra quê fui o amor inventar

Sou aquela que se entrosa
Com todos os meninos
Vigorosa e desprendida
Nas bandas da vida

Países não me explicam
Parentes não me abrigam
Poetas me perfuram
E palavras me penetram

No andar
No olhar
No tocar
Um eterno desejar
Pra quê fui o amor revirar

No feminino tímida
No masculino íntima
Sou de improviso lúbrica
De propósito rústica.

_Ingmar Bergman _

_Persona_

" Pensa que não entendo? O inútil sonho de ser. Não parecer, mas ser. Estar alerta em todos os momentos. A luta: o que você é com os outros e o que você realmente é. Um sentimento de vertigem e a constante fome de finalmente ser exposta. Ser vista por dentro, cortada, até mesmo eliminada. Cada tom de voz, uma mentira. Cada gesto, falso.Cada sorriso, uma careta.Cometer suicídio? Nem pensar.Você não faz coisas desse gênero. Mas pode se recusar a se mover e ficar em silêncio. Então, pelo menos, não está mentindo. Você pode se fechar, se fechar para o mundo. Então não tem que interpretar papéis, fazer caras, gestos falsos… Acreditaria que sim, mas a realidade é diabólica (…). "

..." Eu não morri,dormi, acordei no depois..."

"Sacrifiquei o ontem pelo meu agora,
Quebrei  os ponteiros danifiquei  as horas.
Reneguei o tempo, não era inteiro,
Fiz-me em segundos, fracionei -me..."

" Chuva"

Águ[ardente],
quando em dias tristes queima as entranhas da gente.
Águ[arada],
prepara o útero terra para abrigar a semente.
Águ[abençoada],
Iansã , Iemanjá e Iara.

Águas doces e fugidias de um braço de rio,
Águas brancas que se cansaram do estio.

"E lá fora a vida rola num filme sem rePLAY"...

Reclamo de tudo desde criança.
Do medo do velho do saco
Do skate quebrado
Dos trabalhos da escola
Da pipa fisgada pelo adversário
Da chuva que me obrigou a ficar em casa
Do vizinho que seqüestrou minha bola
Do menino que não me queria
Do menino que eu podia e não via
Da caixa de brinquedos sempre desorganizada
Do gol contra feito na pelada
Do joelho ralado
Do chiclete que perdia o gosto rápido
Do vestidinho rosa de barbie
Das tranças apertadas
Do sapato de boneca e da meia de pompom que incomodava
Da excursão da escola que não houve
Do professor de matemática e da nota que ele me dava
Da diretora que me suspendeu das aulas, eu não me achei culpada
Do castigo de duas semanas sem sair de casa
Da hora certa pra dormir não sem antes fazer chichi
Dos legumes e verduras que era obrigada engolir
Do chato do meu pai, da chata da minha mãe
Da mesada não dada por falta, eles diziam, de merecer pra ter
Do dente de leite que caiu e da vergonha de sorrir.
Reclamei de tudo.
De um tudo que me apoquentava
De um tudo que me assustava
De um tudo que irritava.
Reclamei, reclamei em tom baixo,suave .
Doces reclamações do meu ontem.
Hoje declamo
Como é amargo o crescer... reclamo!

" E meu coração embora..."

Eu,que de tanto amor te tenho te desenho,
Traço os traços de Minas Gerais.
Eu,que de tanto amor te tenho te conduzo,
Te deixo na estação, te vejo partir.
Finjo que não lembro mais de teu rosto,
E fica na retina um meio que desgosto.
O trem apita longe,eu de costas,de frente não fico,
O trem pra mim virou coisa

" O amor que acende a lua " RUBENS ALVES

(...) " Dormi com o livro entre os braços acalentada por Rubens Alves. Pela manhã, logo no alvorecer ele me disse: levanta preguiçosa,vá até tua cozinha e pegue um café, anda, te avia,leia a página 59. (...) Depois de horas de “conversação” cheguei a conclusão: melhor ser pipoca que milho.O milho contém a pipoca e a pipoca salva o milho”..."

O SAXofone

O SAX saqueia meu pulmão, leva meu ar de dor,pesado.
O SAX cria-dor em dó menor.
O SAX JAZZ era em sons de lá.
O SAX BLUES em  MIm
O SAX em SOL polar, apagado,
O SAX sem voz,calado,
O SAXofone.

Amo

 “Amo,

a incoerência de um rabisco gente,

o tempo que me afeta,

a risada estridente,

a acidez do limão que trava a boca,

a síndica do prédio que é louca.

Amo,

sobretudo minha partida,

a festa da despedida,

a lágrima reduzida,

a mala que ficou perdida,

a turbulência do vôo.

Amo,

a veia que me salta,

o sangue que me jorra,

o tecido de mal gosto que me cobre,

a raiva que me sobe,

a ternura que me invade quando o alvo é revelia,

o vento que não namora, me fustiga e arrepia.

Amo,

o vício, meu ofício,

o corte no supercílio,

a saída abrupta do ovo,

a entidade corvo que em mim habita,

a língua que fere e corta salgando a saliva,

o banquete que promovo, sem comensais e comida.

Amo,

O que não foi dito,

o arrependido,

o que foi renegado,o atrevido.

Amo,

de soslaio, por meio,

quando caio livre ,o abismo,

o que é posto como fracasso na vida.

Amo,

sem medir e sem medida,

o que o mundo diz maldito ,

a fobia, a pressa e a preguiça.

Amo,

a agonia,

a angústia, o ar que falta,

o morrer por apoplexia,

 amo”

Lacrimosa dies illa.

Meu avô era além de um luthier,mas quando lhe perguntavam a profissão não titubeava,respondia: sou marceneiro. Em sua oficina entremeando violões e cavaquinhos fabricava também caixões.Que arrepio,o som e o silêncio construídos com as mesmas ferramentas, e, pelas mesmas mãos!?


O pouco que sei de história da música sei por aqui lendo alguma coisa ou outra por mera curiosidade. E esta mesma curiosidade me fez ler: MÚSICA é a combinação do som e do silêncio (...)


 Joannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus Mozart -Requiem- Um dos mais sublimes exemplos de “cumplicidade” silêncio e som, ouçam! Apurem os ouvidos de ouvir estrelas, apurem!Ouçam o bailar dos corpos celestes, apreendam a música das esferas.


Ele não terminou,decidiu (quis mesmo) ir antes, deixou em anotações o destino dessa beleza a outros, e o dele a Deus.


 Na minha pequenez perguntei: como teria ficado se ele tivesse terminado? E, de súbito, a resposta/pergunta: quem disse a você que ele não a terminou?


 Paro por aqui, LACRIMOSA.


O parto de uma estrela, o nascimento do belo por uma outra grandeza.


"Sinto-me obrigado a deixar transbordar de todos os lados as ondas de harmonia provenientes do foco da inspiração. Procuro acompanhá-las e delas me apodero apaixonadamente; de novo me escapam e desaparecem entre a multidão de distrações que me cercam. Daí a pouco, torno a apreender com ardor a inspiração; arrebatado, vou multiplicando todas as modulações, e venho por fim a me apropriar do primeiro pensamento musical. Tenho necessidade de viver só comigo mesmo. Sinto que Deus e os anjos estão mais próximos de mim, na minha arte, do que os outros. Entro em comunhão com eles, e sem temor. A música é o único acesso espiritual nas esferas superiores da inteligência."

_Ludwig Van Beethoven_

" Do meu criado mudo,móvel imóvel que inundo entre o sair e voltar de noites, continua..."

Brilha brilha estrelinha,vai na ponte, joga a luz, ilumina o meu caminho,deixa eu passar, me conduz...

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"Ainda não me perdi de nada, tudo está no seu lugar,

teatro, pipoca, luar.

Ainda não me perdi de nada, tudo está no seu lugar,

cor,  peso, o ritmo de todos os instantes...

Ainda não me despreendi de nada, tudo está no seu lugar."

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 Eu amo de amor branco e profundo como deveria ser todos os amores "vadios e vagabundos" do mundo.

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Lapso?O lápis escreve e erra,um ato falho do grafite.

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Uma retina avariada, o oblíquo foco e mais nada...
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"Presa  DE UMA  invernada,
Solta no eclipse,
Obscuramente ESQUECIDA."

Josef

"Andam a me perguntar:quem é Josef,quem é Isabor?Ele? Segredo meu.Eu?Segredo dele!Leiam  e não façam perguntas que para nós dois seriam descabidas por demais. Isabor nem tanto, mas Josef ?"O Lobo da Estepe",um persongem digno de Hermann Hesse...Josef é só para os loucos, só para os loucos e raros."

Citrus reticulata X Citrus sinensis

"Preciso que faça um favor a este velho minha querida Isabor” -disse-me ele com aqueles olhinhos divertidos que há muito eu não via e já andava a sentir aquela saudade que plange a alma da gente. Parecendo notar em mim um misto de surpresa e pânico, um quase sorriso juntou-se ao olhar e vislumbrei naquele rosto trincado pelas rugas e pela dor uma propositada galhofaria. Conhecendo Josef como conhecia, sabia de antemão que o tal favor me custaria uma queima substancial de neurônios e energia. O que viria a seguir?

Minha querida, não posso ir desta para a outra sem saborear um Cohiba Behike, pois!? Temos ainda na adega uma última garrafa de Sauvignon, não temos? Ou, poderia me preparar uma sopa aveludada de castanhas com aipo e trufas brancas de Alba?

E acham vocês que adiantaria eu argumentar com a mais lógica das lógicas existentes? - Josef, os charutos não existem mais, foi uma edição limitada comemorativa.Quanto às trufas brancas de Alba Josef, sabe que é impossível no momento conseguir uma única grama dessa iguaria! Não conseguiria nem que eu fosse um dos porcos farejadores a ganhar abençoados 500 euros/hora para isso!

Ele me olhava, me olhava e nada dizia. Tremi. Desconcertei-me. A porta do quarto encontrava-se entreaberta e eu via a escada que dava acesso ao andar inferior. De súbito me veio uma vontade de reviver os tempos de minha infância, descer escorregando pelo corrimão gritando feito uma louca, encontrar a porta de saída e me perder no branco do dia coberto de neve. Estarrecida e tentando disfarçar meu desconforto olhei bem nos olhos dele e disse categoricamente as palavras : “PEÇA E FAREI”, mesmo sabendo que me arrependeria quase que imediatamente de as ter dito. Não posso dizer com certeza quantos minutos se passaram até vir a resposta, mesmo porque só pode contar o tempo quem vive,quem não respira não vive, eu morri temporariamente aí.

- Compota de tangerinas andam a dar-me água na boca, podes?-

Estávamos no inverno polônes, se é que me entendem, e além do que eu nunca havia feito uma compota antes, nem imaginava por onde começar. Mas como sempre foi entre mim e ele, ainda que com grandes sacrifícios todos os desejos eram atendidos. Uma questão de certo amor, um pacto de um genuíno e extraordinário amor. Pus-me em campo prometendo a mim mesma trocar parte da minha vida por meia dúzia das frutinhas. Havia na vila um mercado, um "empório", reposteiro da minha esperança que foi logo maculado pelo velho dono: NÃO, NÃO TEMOS! Procurei por tangerinas como se as mesmas fossem fugitivas da polícia. Subi a colina, me perdi em vielas, atravessei o rio na velha balsa e, nada, nada! Quando já me desesperava  notei uma senhora com um cesto de laranjas e me veio a ideia: farei uma compota de laranjas, farei! Nunca eu havia trapaceado antes com ele a não ser no jogo de cartas. Coisa esta que não me colocava como uma bandida pois era preciso, visto que o gaiato assim o merecia. De posse das "tangeranjas" adquiri essência de tangerinas, arregacei as mangas e fiz-me acompanhar de um livro de receitas e de algumas rezas aprendidas com um velho índio quechua (Huanca,amigo que fiz em uma viagem junto de Josef ao Peru). Pronto, agora sim ele vai ver que não me acovardo facilmente!

Quatro horas depois eu e a compoteira juntas nos apresentamos a ele. Confesso que com um orgulho meio falso, mas orgulho. Ele olhou para ela, olhou para mim, cheirou o ar, voltou a cheirar e disse: esperas o que para servir-me? Não se fazendo de rogado comeu com uma ferocidade quase animal, a princípio como a matar uma fome de vida. Saciada a fome de tangerinas senti que ele ia começar a degustar laranjas. Temi, suei, desviei o olhar inúmeras vezes temerosa de ser pega em fragrante delito. Com movimentos leves uma vez que as frutas havia se acabado ele começou a enfiar o dedo na compoteira, encharcá-lo da calda e levá-lo à boca. Isso tantas e tantas vezes começando a me enervar. O ritual simples e inocente parecia a mim um macabro filme de terror. Certo exagero há no que disse, bem o sei, mas quem conheceu Josef não ousaria desmentir-me. Ele, não se abalando, continuava, continuava.

Dissimuladamente “resolveu” perceber meu descontentamento, parou, olhou-me com olhos de um azul profundo e com as mãos encarquilhadas e ainda sujas fez um desenho no ar que até hoje não compreendi. Com uma calma surpreendente que até o vento fustigante fez uma tentativa de ser brisa disse-me: “vivi" 86 anos e nunca havia comido compota de laranjas. Vejo agora o quão tolo fui ao preferir a de tangerinas. Não havia me dado conta que estamos em novembro. Tangerinas são mulheres vaidosas, soberbas, só nos amam de maio a setembro, e aqui na Polônia não permanecem nem por este tempo. Já as laranjas minha querida, são mulheres de regalo, uns mimos da natureza; entendem como ninguém que não há estação do amor ou estação para amar. Sempre a nos proteger no inverno, nos refrescar no verão, nos acalentar no outono e, na primavera (a melhor delas), abrem suas flores brancas deixando-as ao alcance de nossos sentidos de homem. Laranjas minha querida, são safadinhas, dão o ano inteiro, principalmente as pêras!”.

Só nele minha alma com receio e pudor imagina a carne e o sêmem.

“Em estado de extrema fluidez vive meu amor em mim,
 não é um corpo sólido e polido,entra-me pelos olhos, molha-me,é liquido!

 Rapsódia de um agosto de centenas de anos atrás.
 Força insatisfeita e inquieta como os versos contidos na lata do poeta.

 Um ser não sendo em seu complexo exílio do lado de dentro.
 É “só” mim, não eu, nem tu, nem ele.

 Insiste num horizonte longe daqui, darma azul que canto,
 encanto gregoriano de si.

 Confissão que ajeito num platô.
 Salada grega com confeitos de tâmaras, ameixas, cerejas, manjericão, azeite, limão! “

Roto...Poço...Rito...E o Mito?

O roto rasga,
O poço é sulfito.
O rito engasga,
O mito é infinito...

O roto é traça,
O poço é trapaça.
O rito é cachaça,
O mito é labirinto...

O roto e a peste,
O poço e o desgosto.
O rito e o não dito,
O mito e o grito...

A peste sufragou o roto,
O desgosto tragou o poço,
O não dito devorou o rito.

 E o mito e o grito, gozaram ao infinito!