sábado, 27 de fevereiro de 2010

Amo

 “Amo,
a incoerência de um rabisco gente,
o tempo que me afeta,
a risada estridente,
a acidez do limão que trava a boca,
a síndica do prédio que é louca.
Amo,
sobretudo minha partida,
a festa da despedida,
a lágrima reduzida,
a mala que ficou perdida,
a turbulência do vôo.
Amo,
a veia que me salta,
o sangue que me jorra,
o tecido de mal gosto que me cobre,
a raiva que me sobe,
a ternura que me invade quando o alvo é revelia,
o vento que não namora, me fustiga e arrepia.
Amo,
o vício, meu ofício,
o corte no supercílio,
a saída abrupta do ovo,
a entidade corvo que em mim habita,
a língua que fere e corta salgando a saliva,
o banquete que promovo, sem comensais e comida.
Amo,
O que não foi dito,
o arrependido,
o que foi renegado,o atrevido.
Amo,
de soslaio, por meio,
quando caio livre ,o abismo,
o que é posto como fracasso na vida.
Amo,
sem medir e sem medida,
o que o mundo diz maldito ,
a fobia, a pressa e a preguiça.
Amo,
a agonia,
a angústia, o ar que falta,
o morrer por apoplexia,
 amo”

2 comentários:

  1. Amar, amar... Bons versos para descrever esse tal de amor. Poema profundo, que ama tudo que vê, sem medir e sem medida. Ama o maldito, a ravia e tudo o mais... Ama, antes do amor, o humano. Demasiadamente humano... Amemos então os abismos, os fracassos... Aprendamos com este amor a admirar tudo que é baixo no gênero humano, só assim poderemos ousar falar de amor... Faz sentido?

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  2. Amar nem o que ninguém ama, mas o que é quase inexistente à nossa percepção. Coisas tão vessas, opostas, complementares... Tão... Nós. Estarão aí os ensinamentos para amarmos uns aos outros?

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